Em 1361, D. Pedro determinou que em lugares onde o número de judeus ultrapassasse a dezena deveriam viver em bairro próprio. Curiosa é a referência de, por essa altura, os judeus de Trancoso já possuírem estalagens melhor apetrechadas de roupas e comida que as dos comerciantes cristãos. O que não impedia a população de viver em relativa harmonia. Mas quando, no ano de 1543, o Tribunal do Santo Oficio decide lançar-se contra os cristãos-novos, acontecem na vila “terríveis momentos”, como relata Alexandre Herculano na sua “Historia da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal”. Mal chegou a Trancoso, o comissário inquisitorial chamou “os fiéis a delatarem todos os suspeitos de judaísmo”. Os cristãos-novos iniciam uma fuga apressada. “Os camponeses das cercanias” acorrem à vila, “arrastados pela esperança de poderem cometer todos os excessos à sombra do zelo religioso”, E enquanto eram presos os fugitivos, “trezentas crianças vagueavam pelas imediações, sem abrigo, sem rumo e dispersas, chamando em alto choro por seus pais”. Depois destes tempos, “a vila foi sangrando desta gente com prejuízo para o seu comércio e riqueza”, anota Lopes Correia, no livro “Trancoso – Notas para uma Monografia”.
De marcas dos descendentes do Rei David está Trancoso povoada – na arquitectura, nas ruas, nos sinais inscritos nas paredes, na quietude em que parecem manter-se os espaços por eles ocupados. Há que percorrer os lugares-memória da presença judaica… in “Guia Expresso das Cidades e Vilas Históricas de Portugal”